Jan 20, 2009

Diário Israel/Palestina 2


Prendas para Gaza

Quando a guerra começou em Gaza, Ahed Izhiman foi entregar parte das suas roupas à Cruz Vermelha. “Agora queria mandar dinheiro, mas não sei como”, diz, a caminho de uma loja de molduras.

Os palestinianos são mais maciços que esguios e Ahed destaca-se por ser tão magro e alto no movimento da principal rua de Jerusalém Oriental.

A Salahaddin tem farmácias, floristas, o melhor café, a melhor papelaria, o melhor lugar para comprar azeite ou comer “hummus”, além de dezenas de lojas de roupa barata, champôs e detergentes, electrodomésticos “made in” China, telemóveis “made in” Liga Árabe ou o Centro Cultural Francês.

O melhor café (pelo menos, expresso) é o da família de Ahed, que no piso de cima montou vários postos de Internet e no piso de baixo vende chocolates de todas as cores e tamanhos, incluindo sazonais.

“Em Jerusalém temos três Natais, o católico, o ortodoxo e o arménio, e ontem foi o arménio”, disse um dos irmãos de Ahed, para explicar a presença maciça de pais natal de chocolate a 19 de Janeiro.

Foi nessa altura que Ahed pegou no casaco para ir à loja de molduras. Agora está a virar à esquerda. Entra numa porta e sai pouco depois com uma pintura muito colorida em cada mão. Na direita, um palhaço sorridente, na esquerda um arco-íris por cima de casinhas brancas e intactas. “São as pinturas que os meus alunos de oito anos fizeram para Gaza.”

Além de servir cafés e pesar bombons, Ahed é desenhador, fotógrafo, dá aulas e não lhe perguntem o que é que Obama pode fazer, mas o que é que ele, Ahed, pode fazer.

Quer fazer “mais qualquer coisa” por Gaza e a tomada de posse do novo presidente americano não o entusiasma. “Para nós, ainda é a América. Precisamos de uns meses para ver o que ele pensa, qual é o plano dele. Deixámos de acreditar fosse em quem fosse.”

Ahed dá o exemplo do presidente Mahmoud Abbas, a quem os palestinianos chamam Abu Mazen: “Acreditámos em Abu Mazen e ele fez esta guerra em Gaza.” A culpa é dele? “Só dele. Porque Bush era o nosso inimigo, e Olmert [primeiro-ministro de Israel] era o nosso inimigo, e Abu Mazen concentrou-se no Hamas, em como podia destruir o Hamas. E ele sabia que esta guerra podia acontecer.”

O que devia Abu Mazen ter feito? “Devia ter dito que os nossos problemas são resolvidos entre nós. Devia ter resolvido as coisas com o Hamas. Não era preciso chamar esta gente de fora.”Fala um jovem palestiniano de Jerusalém que já cresceu na desilusão da Fatah e não tem a ilusão do Hamas. “Só as pessoas da Fatah culpam o Hamas pela guerra, e sabe o que mais? Entre elas há quem esteja contente com o que aconteceu.”

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