Em Mahane Yehuda, um ninho da direita, uns acham que Bibi Netanyahu é “o menos mau”, outros já se mudaram para a extrema-direita. O grande herói continua a ser Menahem Begin.
Alexandra Lucas Coelho, em Jerusalém
A careca e os óculos não mentem.
Menahem Begin – o guerrilheiro pela fundação de Israel, o líder do Likud que pôs fim a 30 anos de poder trabalhista, o primeiro-ministro que fez a paz com o Egipto e ganhou o Nobel, o decisor dos colonatos e da invasão do Líbano em 1982 – continua a ser o grande herói israelita de Mahane Yehuda.
Este grande mercado em Jerusalém é um bastião da direita tradicional, aqueles apoiantes do Likud que são filhos e netos de apoiantes do Likud. E por várias vezes souberam o que era um bombista suicida a explodir aqui dentro, entre as maçãs dos Golã e os morangos de Netanya, as azeitonas temperadas e as tâmaras, os queijos, a carne, o pão, tudo isto com “kipas” na cabeça, certificados “kosher” e casais laicos misturados com ultra-ortodoxos às compras.
Por exemplo, o sorridente Yuv, que tem 45 anos, três filhos e uma parede da sua frutaria pintada com a cara de Begin. “O meu pai gostava muito dele. Era um verdadeiro líder, um homem especial, não mentia.” E agora? “Estamos num grande problema. Não temos ninguém que possa fazer este país melhor, fazer a paz.” O conflito com os palestinianos é o problema número um, acha Yuv.
Como vê ele Benjamin (Bibi) Netanyahu, sucessor de Begin na liderança do Likud e favorito nas eleições da próxima terça-feira? “É o melhor que há”, suspira Yuv. “É forte. Quando era ministro das Finanças foi o melhor, tornou a Economia forte.” Portanto, vai votar nele? “Não tenho opção. Lieberman é demasiado à direita, não gosto da forma como fala dos árabes.”
Avigdor Lieberman é a sensação da campanha.
Já se sabia que este moldavo emigrado para Israel há 30 anos defende coisas como retirar a cidadania aos árabes israelitas que não se declararem fiéis ao Estado de Israel, bombardear o centro de Ramallah ou afogar prisioneiros. A sensação é que o seu partido, Yisrael Beytenu, está em terceiro lugar nas sondagens, com 15 lugares, depois do Likud (28) e do Kadima (24). Ou seja, à frente dos trabalhistas (14).
Mas não convenceu o fruteiro Yuv, apesar dele estar zangado com os palestinianos. “Queriam Gaza, demos-lhes Gaza, e o que temos? Acho que nunca haverá paz. Há 20 anos era melhor. Sem paz, tínhamos paz. Podíamos ir a Ramallah, até a Gaza, e os árabes estavam aqui.”
Como quase toda a gente aqui, diz “os árabes” e não “os palestinianos”. Desta banca, herdada do pai, testemunhou “umas cinco ou seis bombas suicidas”, em que lhe morreram amigos. “As pessoas deixaram de acreditar na paz.”
Várias lojas à frente, Moshe, que nasceu “com o país, em 1948”, vende queijos, pickles, peixe em conserva mas também doces. E não é um segredo que Bibi perdeu aqui um voto. Lieberman debaixo dos doces, Lieberman na porta do frigorífico, Lieberman na porta da despensa, três cartazes mostram em quem vai votar este afável mercador de barba barnca, que põe o braço à volta dos ombros de qualquer cliente.
E quem está na fotografia emoldurada ao pé da caixa? “Begin com o meu pai”, explica Moshe.
“Begin foi um grande ser humano antes de ser um grande líder. Nunca dizia uma coisa e depois outra. Nunca mais vamos encontrar alguém como ele, honesto, decente. Se ele estivesse vivo, eu não mudava do Likud, mas o Likud já não é o mesmo.”
O que é que Lieberman tem de melhor? “Diz algo e não muda, diz o que pensa e faz. Os políticos mudam sempre, tenho pena de dizer isto do meu país, mas é verdade.”
E Moshe não está sozinho. “Mahane Yehuda é o lugar do Likud, mas há dois dias fizemos um inquérito e se a votação fosse aqui Bibi tinha 30 lugares e Lieberman 19.”
Estancar as perdas
Estará Bibi a perder o coração do Likud? Não, crê Yossi Verter, analista político do diário “Ha’aretz”. “Netanyahu sempre foi um líder popular no Likud, e continua a ter o núcleo duro dos votantes.” Mas não há dúvida de que tem perdido para a extrema-direita, e esse será o maior desafio dos próximos dias: “Se caírem rockets em Israel, isso ajuda tanto Netanyahu como Lieberman. Netanyahu tem que conseguir parar o processo de perder votos para Lieberman.”
É cedo para dar Bibi como vencedor? “As coisas estão a mudar constantemente, e muita gente decide na última semana”, diz Verter. “Não creio que Bibi perca, mas se perder mais votos pode não conseguir formar um governo estável. Precisa de 30 a 32 lugares para isso.”
As sondagens dão-lhe 28. Estratégia até terça-feira? “Convencer os eleitores de que se votarem pela extrema-direita podem não o ter a ele como primeiro-ministro. Tem que dizer: se me querem, não votem por quem diz que se vai aliar comigo, porque me podem perder.”
Antes desta ascensão de Lieberman, Netanyahu tinha consolidado uma subida do Likud nas sondagens. Em dois anos, mais que duplicou.
E no mercado de Mahane Yehuda, pode contar com a campanha fiel de Avraham. É que este fruteiro não tem apenas duas fotografias de Menahem Begin. Também tem uma de Bibi Netanyahu, embora mais pequena.
Neste momento discute energicamente com um casal, Rodni e Anzi. Os israelitas adoram discutir, e põem toda uma veemência física nisso. Durante uns bons minutos o que um não falante de hebraico entende é Sharon!, Tipzi! Bibi! Bibi!, com muita garganta e braços.
Rodni ainda não sabe se vai votar Kadima (Tipzi Livni) ou Meretz (centro-esquerda), Anzi vai votar Hadash (o partido árabe-judeu do comunista Dov Hanin) e é por isso que discutem com o fruteiro Avraham. E enquanto um discute o outro vai traduzindo para inglês.
“Bibi vai ser melhor primeiro-ministro!”, clama Avraham. “Quando Rabin foi primeiro-ministro a primeira vez, foi mau. Da segunda vez foi excelente. Vai ser assim com Bibi!”
O fruteiro em frente junta-se à discussão, para apoiar Avraham. “Saímos de Gaza sem nenhum acordo, e agora querem que saiamos de Jerusalém? O próximo governo vai ser Bibi, Lieberman e Shas!” Shas é o partido religioso sefardita, que está em quinto, atrás dos trabalhistas.
Quando a repórter tenta abordar este nova voz pró-Bibi em inglês, ele responde “No. No.” E depois em hebraico: “Pergunte à Livni, ela fala inglês. Aqui, é só a direita, só a direita. Bibi é que nos vai livrar de Obama e dos árabes.”
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