Feb 11, 2009

Votar à chuva e ao vento, dos árabes aos religio sos verdes


Tzipi Livni
Uriel Sinai/AFP


Reportagem

Alexandra Lucas Coelho, em Jerusalém

Reem está a sair da secção de voto com uma trouxa nos braços. "Tem dois meses", diz, puxando um cobertor até aparecer uma minúscula cabeça cor-de-rosa. Apesar de chover e soprar vento forte em Jerusalém, este pai foi um dos que não deixaram de vir votar. Mais à frente, a mulher leva duas crianças e outras duas saltitam, com pequenas kipas na cabeça. Cinco filhos? "Não, nove. Os outros não vieram."

São religiosos, mas não ultra-ortodoxos. E, de acordo com a lei internacional, são também colonos. Porque esta secção de voto fica numa escola em Sheikh Jarrah, um dos principais bairros de Jerusalém Oriental. Do lado de fora do portão, param carrinhas cheias de crianças, meninas de saias até aos pés e meninos com kipa, e os pais vão desmontando carrinhos de bebé.

Depois chega uma carrinha com autocolantes do partido A Casa Judia, religiosos de direita. Tem um sorridente homem ao volante, e no banco de trás uma jovem mãe de turbante, com o bebé metido na camisola. É comum: os partidos vão buscar pessoas a casa e levam-nas a votar. A seguir aparecem estudantes judeus da Universidade Hebraica, que não fica longe. Avi e Shiran, morenos e sorridentes, não têm um problema de indecisão, ao contrário de muitos israelitas. "Vou votar por Bibi, claro!", diz Avi. "Eu também, e ele vai ser o vencedor", diz Shiran.

Dos três líderes que podem ganhar - Bibi Netanyahu (Likud), Tzipi Livni (Kadima) e Ehud Barak (Trabalhistas) - ele é o mais à direita, e Avni e Shiran querem votar à direita.

Nesta parte da cidade há uma outra fatia de eleitores, os árabes israelitas. Os que não boicotam as eleições poderão dividir-se entre o partido árabe de Ahmad Tibi e um partido misto como o Hadash, que tem o judeu comunista Dov Hanin.

E é o que se verifica com os próximos eleitores. Primeiro, um casal, ela de lenço na cabeça, ele de fato. "Votámos por Ahmad Tibi", diz o marido, que tamém se chama Ahmad, tem 51 anos e trabalha em hotelaria. "É perigoso não votarmos. Se votarmos, talvez tenhamos 15 deputados no Parlamento que possam fazer alguma coisa.

"Eles a saír e quatro raparigas de cabelos ao vento a entrar, jeans e saltos. São... árabes? "Sim, claro", diz Rania, que tem 20 anos e vai votar Hadash, como todas elas. "Porque somos uma minoria e o nosso voto pode ter efeitos, para podermos ter os mesmos direitos que os judeus e estarmos representados no Parlamento. "Noutra parte da cidade, no bairro German Colony - burguesia cosmopolita e maioritariamente laica -, há todo o tipo de propaganda partidária à porta de uma escola onde se vota.

Encostado à grade, com uma banca do partido e tudo, um rapaz distribui panfletos de Livni. Sentados num banco de jardim, dois rapazes distribuem panfletos de Netanyahu. E de pé, no passeio, um homem de grande cabeleira e barba grisalha distribui panfletos dos verdes religiosos. Chama-se Claude, veio do Uruguai, fala espanhol e português. "Espero que tenhamos pelo menos um deputado", diz. "Sou judeu crente, mas sou sensível à ecologia e à moderação com os palestinianos. O respeito do outro é a minha identidade, e tem que ser uma força para contrabalançar o fascismo do Lieberman."

Lá dentro, Yohai, que veio com a mulher e o bebé, vai votar Meretz. "É a única esquerda sionista", suspira. "A única esquerda." Também há o Hadash, de judeus e árabes. "Pois, ainda pensei no Hadash. Gosto muito de Dov Hanin, se tivesse que escolher um primeiro-ministro escolhia-o a ele. Mas no Hadash são mais árabes que judeus." Já Rava, 71 anos, caminha para votar ainda não completamente convicta. "Tinha que votar algo e não conseguia decidir, mas não podia deixar de vir." E então? "Vou votar pela direita, e por um partido pequeno." Isso é certo. "Provavelmente, A Casa Judia."

Mas não precisou que a trouxessem de carrinha.

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